Canal Parlamento, quanto
nos vai custar?
Não sei se os
portugueses já repararam mas passaram a dispor de outro canal na sua televisão,
o Canal Parlamento (é só
sintonizar), da responsabilidade da Assembleia da República (AR) a qual,
recorde-se, é autónoma do governo. Se não reparou também não fique preocupado
pois segundo as recentes estatísticas, em média, no primeiro semestre de 2013 apenas
cerca de 720 portugueses se deram ao trabalho de assistir às transmissões do dito
canal.
Agora vamos ao
que mais interessa…quanto custa ao erário público mais esta iniciativa democrática
do nosso riquíssimo país?
A minha
primeira surpresa resultou do facto da AR alegar que este canal não possui
orçamento próprio, individualizado, pelo que a informação oficial é a de que os
seus custos de funcionamento se encontram integrados no orçamento “geral” da
própria AR. Por outras palavras não será possível conhecer com detalhe quanto
nos custa, ou custará, o dito canal.
Já a minha
segunda surpresa foi um resultado do tentar tirar “nabos da púcara” e do procurar
conhecer as estimativas, aproximadas, dos custos envolvidos. Assim, concluí que
só de custos anuais com a transmissão do sinal em TDT a AR deve pagar 420 mil
euros anuais à Portugal Telecom, aos quais poderão acrescer qualquer coisa como
2,2 milhões de euros de outros gastos de funcionamento, ou seja, devemos estar
a falar de custos totais na ordem dos 2,6 milhões de euros anuais, obviamente em
nome do interesse público.
Efectivamente,
não estamos a falar de uma quantia astronómica mas a verdade é que toda a
despesa conta e foi assim, aos poucos, que acabámos por ultrapassar os limites
do aceitável e entrámos numa banca rota que teima em não nos deixar. Logo, impunha-se
e impõe-se alguma ponderação por parte dos políticos pois, embora tudo isto
possa ser legal, a verdade é que parece envolver uma certa dose de imoralidade.
Então, numa altura em que o estado tenta desesperadamente e sem grande sucesso controlar
a sua despesa corrente e em que continua na ordem do dia a reestruturação da
RTP e o desejo do governo conseguir reduzir as elevadas transferências financeiras
para a estação pública, a AR decide aumentar os seus custos fixos e “presentear-nos”
com outro canal de TV para transmitir o seu dia a dia. Isto é um contra-senso. Que
país é este?
Para ajudar “à
festa” a região autónoma dos Açores também já ponderou seguir o mesmo caminho e
criar o Canal Parlamento Açores, pois se a AR do continente tem direito… Nesta
linha de pensamento, não tardará muito para que a Madeira também pondere o mesmo
assunto.
Será que este
canal era assim tão necessário? Será que, ao fim de quase 40 anos, a democracia
ficaria em causa? Será que, numa altura em que os portugueses estão sufocados
com o peso da carga fiscal e que o futuro ainda é incerto, terá sido a altura mais
oportuna e moralizante para adicionar mais 2,6 milhões de euros aos gastos
públicos? Todos sabemos que qualquer assunto ou tema importante que envolva a
AR é repetido vezes sem conta nos telejornais, incluindo na RTP (a qual nos já pagamos
com os nossos impostos). Então para quê mais este canal? Para não ser inconveniente,
deixo à imaginação dos leitores os eventuais fundamentos e motivações dos
senhores Deputados.
De qualquer
forma, estamos a falar de algo do género: alguém decide que precisamos de mais um
carro de luxo, mesmo estando mais que falidos, pelo que esse alguém decide
comprar-nos o dito carro (sem nos consultar) apesar de ainda existir o sério
risco de qualquer dia tornarem a discutir novos pacotes de impostos visando ajudar
a pagar as facturas que temos vindo a acumular. Depois queixam-se dos
portugueses estarem fartos da política. Haja paciência…